Novembro Negro

kaminho fechado
eskuridão no meio do mato
lamento lamento lamento
isolamento

na garganta digno de dó
moído
koração korroído
olhos marejados mas lágrima seka
vivendo kalejado sempre na mesma
vadio tio
o medo da palavra
lavra silêncio
deskonta a raiva no stencil
pra vandalizar e chorar
as dores no mundão
mar de saudade mar de solidão
várias maldade
destruíu as irmã
kade u klã?
Na rua o medo ke akua
nem amor nem dor nem beleza nem tristeza
sou oko
sou loko
bate o desespero
saberes do terreiro
laroiê
a boka do universo
recita us verso
oferenda a poesia
emenda a fantasia
ipadê
abre o kaminho
oraiêiê deu karinho
no som da kachoeira
batuke do Ilê
salve preta bandeira

malandragem é kapoeira
voa besouro voa besouro voa voa
não é pelos ouro
liberdade é pogo
guerreiro bom
malícia na ginga
tem o dom rimando
solta a mandinga
dona maria dona maria
olha a kavalaria dona maria dona maria
ó kom um golpe só
derrubou 12 homens
esse é seu nome
berimbau vira foice pra ver o sangue do pilantra eskorrer
tecer prosa em amargurar
entristecer rosas a prokura
da expressão
doente ou são
sente a opressão
us boy nem sabe komo doi
vem falar tentando me kalar
ki existe meritokracia
na terra da demokracia
burguesa
brigador insisti na guerra por pão na mesa
enkuanto o opressor enterra
korpos pretos
pela eugenia
eu ardo
enfureço fia
não tardo e eskureço
na denuncia da tirania
peles pardas são kem são
a miscigenação
não apagou a minha ancestralidade não
traidor são várias faces
embrankeceu e solapou a luta de klasses meu
pobreza absoluta o povão luta luta luta
pelo pão
pa sobreviver
mas pra viver tem ke ter
na moral
da sociedade do kapital
você é o ke você tem
zé ninguém
vida de kão
uma multidão
kom os olhos ela me falou
ki
“não existe amor em sp”
“a cidade sem kor
só lhe dão solidão
só lhe dão solidão
só lhe dão solidão
só lhe são solidão”
é certo sua partida fez um korte
olhou de perto e me deixou a própria sorte
trabalho por um mísero salário
garotos do mangue
filme de bang-bang
derrama negro sangue
mentira da tv pra eskonder
o genocídio de vc
ostentação
não é progresso é ilusão
greve pikete boikote
direta ação
rosa preta
feiticeira das letra
suponho ke não se vende o próprio sonho
entende
se viver é aprender a tokar um tambor
pelo amor jão demorou
o kandongueiro do jongo é certeiro
chama direto pro kilombo
não da pé
vai na fé
guarda no peito
respeito
porke é odara
destreza rara
de Dandara
firmão até o fim
kom ímpeto de Luiza Mahin
em oração kom o koração
até os antigos agradeceria
a ousadia de Esperança Garcia
ke nos konduz komo autodidata na kalma
revolta ke vem da alma
rememorando Carolina Maria de Jesus
a sereia do mar
vai te abençoar
se você agradecer e agraciar
e se toda mente afro germinará
Obá e Oyá vão te dar
uma espada pra guerrear