Author Archives: FORMIGA

formigão satisfação

tomboy
num é playboy
só boy magia
stone bucth blues
metia
ginofagia
não é bluesman
é bluesdyke
tipo moonlight
sofrimento
xingamento
urra
koisa obskura
pekado nefando
inefável
infecção kolonial
não afável
só ke não
é presente ancestral
litera rua
litera eskura
rimando
sonhando amando
fudendo
kongênito
meu gênio
eu nasci lesbika
mas tive ke aprender a ser
ker dizer
tô aprendendo
gênero
refaço nos pano
nos plano
desfaço kuando kaco
em buska do enlaço
mulher homem
meu nome
da pá virada
eta kapoeiragem da nada
vadiagem
abraça
kem tem kor age
maria sapatão
de dia é
maria de noite é João
minha kara
mas pá uma par não
tem sapa ke reivindika
a mulheridade
sem problema
no brejo tem diversidade
konfundindo o cistema
boys dont cry
é outros 500
mas tbm me identifiko karai
drag king
é eu mesmo
não a esmo
no dia a dia
formigão
satisfação
uma ficção uma fricção
sem facção
um romance
uma performance um personagem
um ator
estrelando sabotagem
pertinho da estação Carandiru
todo sapatão preto é exu
o invasor
da heteronorma sou o terror
o ke mais pode ser
um nerd
se não
das rimas das fantasias
das geografias das poesias
buskando o bem viver
o ke mais pode ser
um boy de favela
pela mamãe
ninado
mimado
muito amado
falo giria errado
mas moro dentro dela
atura ou surta
não não furta
Só konhecimento
pra não ser komo uma folha ao relento
ou detento
hamburger do Burguer King
100 por cento vegetal
koisa e tal
ilude
rebel whooper
parece karne
mas legal é não parecer karne
sou mais
os vegetais
ainda prefiro a Rebel girl
mesmo sendo White riot grrrl
mas seu beijo tem gosto de revolução
pensamento são
y salvo
salve
sxe SP
pode kre
é sub kultura
musikal
Só ke também postura
individual
no meio do entorpecente kapital
auto preservação
auto amor sapatão
8 anos sóbrio
não ébrio
nesse mundo sombrio
muito brio
lúcido
meu
sou eu kontra esse mundo hostil
lembrei da treta
dos kings
bando di machista
sai zika
pode rir mas não desacredita
shakespeare dramatiza
lady macabeth regicida
úniko king ke salva
é o martin
pastor
pacifista
pela amor
militante miliano
gandiano
lutou por direitos civis
mudando a vida dos irmão no mundo jao
porke aki é Atlântico negro
o movimento negro
é trans
movimento é transnacional
identidade literária musikal
internacional
nesse cena
rokista
punk mesmo Só se for
punk de butique
uma par de mina chike
fiko em choke
entra em cheque
a koerência
não tá batendo
na konvivência
kurto albuns
alguns
sons
muito bons
embalam meus sábados
bandas
batukes de bambas
hard kore samba
de roda punk
pós punk
marakatu koko
jongo
ce tá loko
me tirando porke
eu não sou musicista
não sou musicista
não sou musicista
sou ativista
das letra
da kausa preta
antirracista
pró feminista
desde pekenin
tinha um anin
já falava
as palavra certin
veja
na praia muita inveja
deu kebranto
na kebrada Dona Santa
do kagohara
sem kobrar 1 konto
benzedeira
kom água Arruda y reza
kurou
minha kaganeira
por isso tenho fé
assim ki é
okê kaboklo
bença vovo
Ô
bixo do mato
baiano nato
kultura de plantas
kultuo plantas
verde não devaste
investe
não na peste
nas mentes
nas sementes
krioulas
nas doulas
lá vem o erê
já kero brinkar angola kom você
posso brindar
agora
sua existência
a kilombagem kontinua resistência
viu
vou ser titio
não keremos
mudanças klimátikas
y autoridades problemáticas
mas veremos
greta tumberg
deu o alerta
salve as florestas
ou derreteram os icebergs
gratidão
por akordar vivão
kontemplar o céu azul
da zona sul
alimento de vegetais
mais e mais
auto kuidado
é afro kuirdado
alimento Organiko
não é frescura
é buska pela kura
não entra em pânico
mas kerem genocídio
por meio de nutricídio
no pankadão
eu tava komo
komo Komo Komo
tipo igual akele som
parado no bailão
da hora
desejando aurora
na beira do mar
celebrar
kantigas
funk é da antiga
batida dos kouro
kongo de ouro
rimas decoro
as vezes choro
porke não konsigo kalar
a dor
as vezes choro
porke não konsigo falar
moro
mas aí
fi
nem a fobia social
nem ser antissocial
fez eu me afastar
posso atestar
kurta
em pernas curtas
komprimidas
kumprida
minha missão
litera eskura
da sul
pro mundão 

por formigão

eu-sapatão: eskrevivência sobre maskulinidade y desafio ao poder

essas ideia ke eu to jogando no vento é fruto de uma vivência. Isso aki é uma necessidade de kebrar o silêncio sobre minha ideia de maskulinidade. nessas linhas vou falar da minha vida pessoal porke o pessoal é polítiko né pai. desde já deixo eskurecido ke reivindiko a estétika maskulina komo expressão sapatão mas não fecho kom a maskulinidade hegemônika porke ela expressa ódio as mulheres.
eu entendo maskulinidade de vários jeito um deles vem da ideia das lésbika feminista maskulinidade komo um instrumento de poder do homem sobre as mulheres. entendo maskulinidade komo performance e entendo maskulinidade komo estétika. maskulinidade komo instrumento de poder é a diferença na edukação maskulina da edukação feminina ke submete as mina. maskulinidade komo performance é parte dessa sociabilidade ke é imposto pra meninos e também é um ritual ke é reafirmado todo dia kom outros karas no boteko, no kampo de futebol e etc. já a estétika é o visual ke dizem ke é visual de homem komprado nas lojas de secção maskulina.
desde pekenin sempre kurti visual de homem. eu pegava o blaizer e as gravata do meu pai e fikava falando olhando pro espelho e falando só brinkando de imitar um jornalista da televisão. Não me tornei jornalista, mas kontinuo jogando palavra no vento na frente do espelho agora kom minha própria kamisa de botão. também kontinuo mil devaneios só ke agora aposto toda minha utopia na poesia preta di kebrada y sapatão.
tomboy ou melhor komo se dizia na rua y na eskola muleke macho ou maria homem. Um jeito zombateiro pra se referir a meninas maskulinas. eu era assim gostava de jogar bola, brinkar de lutinha, kabra cega, pião, bolinha de gude, bater tazo, kolecionar tazo, jogar baralho, soltar pipa era raro mas rolava às vezes, radikalmente descia o ladeirão da rua da feira de patins, andar de patinete, andar de bike. andar de bike eu ando até hoje isso aí foi mamãe ke me deu minha primeira bike azul e me ensinou a pedalar hoje eu ando pra me lokomover rolê ke reaprendi kom us punk.
desde sempre eu sabia ke não era um menino mas me sentia igual todo a mundo, sabia da diferença da biologia mas me sentia igual, kom potência igual kom beleza igual kom inteligência igual. Sempre kurti o rolê tomboy de visual e o rolê das brinkadeiras ke os mulekes manjavam porke era mais divertido estimulava a ação y imaginação. desde de pekeninin tento bular as leis do gênero e fazer meu rolê mas os pé de breke atrasa lado sempre tentou me tirar. desde de sempre keria fazer o rolê kom os meninos mas eles pilantrou. estupro aos 5 ou 6 ano fez eu perceber ke tinha uma koisa errada o jack mirim fez eu akreditar ke eu ke tava no erro estupro e kulpabilização foi minha primeira lembrança de sexismo.
daí pra frente fui me aproximando das meninas também as brinkadeiras delas eram chatas (sempre deixei minhas barbie kareka e lógiko ke minhas barbie era sapatão) mas elas me tratavam bem a amizade das meninas valia ouro era intensa era afetiva era as vezes atrativa. além da “banheira do gugu”, foi brinkando de kasinha (eu era o papai) ke percebi ke eu sentia desejo pelas meninas.
depois do estupro lembro ke fui inkorporando a feminilidade estétika e komportamental ke as minhas mais velhas impunham. Ai kuando me dei konta a feminilidade tava toda expressada por mim porke eu keria eskonder ke era um sapatão. Já 100 por cento uma punk feminina (não feminista u punk feminista veio depois) de formação ainda me aproximei do rolê dos macho di novo por kausa de som de rock. Us rokeiro sempre trokou ideia komigo sobre músika, polítika y kultura só ke nessas fui percebendo ke eles não me tratava komo igual. rolava assédio ou inferiorização da minha intelectualidade. aí rompi kom eles pelo deboche y desrespeito ke eles tinha da experiência feminina.
depois dessa meu terceiro bonde kom macho era kom os viado. dava tanto pião kom as mona ke elas me chamava de bicha também era uma honra ser konsiderado por umas bicha igual elas. era da hora kurtia muito meus amigo viado tava kom eles direto eram parceiros firmeza pro lado bom y ruim da vida. mas elas dava umas mankada de reproduzir misoginia eles me zuavam porke eu não keria mais me depilar, porke eu keria ser kareka. kuando eu komecei a me maskulinizar achei ke o machismo foi pior. senti ke tavam me kobrando pra ser komo os homens aí não konseguia mais konfiar.
dei muito rolê nos sarau do extremo sul da zona sul de SP minha eskola literária só konheço literatura negra hoje por kausa da literatura marginal y periférika. sou insociável tenho muita difikuldade de falar kom as pessoas y manter kontato akabei nem konhecendo muita gente nessa cena mesmo kolando desde os 16. passei minha adolescência entre vinicius de moraes e sérgio vaz depois entre racionais y akins kinte. no sarau kurtia mais us goró (antes era junkie) mas em kasa não faltava castro alves mesmo preferindo o espumas flutuantes vou sempre tá lembrando helber ladislau iniciar seu recital do ‘o navio negreiro’:“era um sonho dantesko o tombadilho (…) tinir de ferro estalar de açoite legiões de homens negros komo a noite horrendos a dançar.” denúncia poétika do sékulo XIX ke marka minha paixão pela literatura y oralidade e da aporte pra kompreender o passado kolonial e o presente racista.
nesse rolê di kebrada poétika memo antissocial extremo fiz umas ligações konheci uns poetinha. tinha um malokeiro kachaceiro y rimador nato era uma pessoa muito gentil kom a minha pessoa ai noiz brigamo depois disso o maluko deu em cima de mim sabendo ke sou sapatão não aceito isso jão. outra situação chata ke eu passei no sarau foi um mano do rap ke veio me intimar se eu sou homem ou se eu sou mulher só porke eu raspo meu kabelo. sei ke até hoje eu sinto medo de kolar no rolê desse kara de bombeta e bermuda larga. teve um rapaz também ke fez uma poesia erótika e veio recitar ela pra mim kuando eu fui ver o bagui tinha um eu líriko lésbiko achei zuado essa fita ai mas kritika literária é outro texto.
na rua teve várias situação ruim ke eu passei mas a ke mais markou minha memória foi no dia ke eu tava no metrô brigadeiro pra rekarregar meu bilhete único aí atrás de mim tinha um kara e uma mina eles fikaram me enkarando e depois komecaram a rir muito e dizer nossa achei ke era homem mas é sapatão é tenho tanto orgulho de ser sapatão ke fikei muito kontente de ser rekonhecido komo um sapatão mas depois percebi ke eles tava zombando de mim por eu não ser homem ser apenas um sapatão.
nesses anos todos de tentativa de fazer parte da patota dos homens cis y viados eu não aprendi a falar igual eles não aprendi a falar na gíria e é lógiko ke isso é um dos porkê eles não fecham komigo. isso dai foi me deixando kom muita insegurança pra falar a ponto de minha voz travar e eu não kerer mais falar na maioria das situações. esse bagui do silenciamento é tão forte e tão pesado ke meu korpo ta kobrando um posicionamento muitos dias minha garganta não para de doer.
sempre tentei me inserir no rolê da maskulinidade preta y periférika porke é minha kara é meu desejo meu visual minha estétika desde de pekeninin e eu ainda kontinuo pekeninin. mas os boy cis lixo sempre me barrou. semprei tentei fazer parte do bolinho seja dos mulekes na família, os muleke da rua, us rokeiro da eskola, os viado, us poeta, us kara do rap. não acesso a maskulinidade deles porke não sei falar na gíria. mas não acesso a maskulinidade deles por kausa de violência sexual, violência físika, violência simbólika, violência patrimonial, violência psikológika. violência patriarkal memo sendo o patriarkado da pobreza ainda sim tem um pekeno poder.
uns tempo atrás levei a krush em kasa noiz tava kozinhando na kozinha e meu pai tava junto lavando a louça. meu pai gosta muito de kontar piada pra dar risada ai ele disse ke sentia saudade de mim porke hoje eu moro longe ke minha mãe também sente saudade e ke kuando ele ker lembrar de mim assisti uma cena de humor da “praça é nossa” kom o personagem chamado “sangue” ke mostra uma atriz ke usa roupa de homem e tenta imitar o komportamento maskulino a piada é justamente essa ela ser um sapatão maskulino malokeiro. na hora ke meu pai veio kom essas ideia a krush riu e disse ke meu pai é muito engraçado. eu disse ke isso era zuado ke era lesbofobia era lesbo ódio kom a aparência de humor/amor.
kem fortaleceu minha kaminhada pra eu kolokar as roupas ke eu kero foi kom as lésbikas feministas. as lésbikas feministas nunka ridikularizaram minhas roupas pelo kontrário sempre mostraram muito respeito pela minha eskolha. foi kom as lésbikas feministas ke eu aprendi a enfrentar meu medo e seguir em frente independente de não tá no padrão dos homens. fiz meu visual por orgulho sapatão.
eu tive ke meter o loko pra por meu visual, minha bombeta y roupa larga não é autorizado pelos macho até hoje eles me intima eles ri de mim eles me intimida eles me tira de viado porke eu não sei os kódigos de linguagem ke eles inventaram. hoje um kara preto e fez eu me sentir mal porke não sei falar na gíria riu de mim komo vários outros karas já riram. voltei pra kasa kom vontade de nunka mais falar uma palavra, me sentindo imbecil y pensado putz ele tem razão sua maskulinidade é um resultado de forças ancestrais ke fizeram ele chegar até aki é um sistema de linguagem komo a gíria é parte dessa forma de sobrevivência. pensei seriamente várias vezes em abandonar meu visual por kausa disso daí.
mas não tem komo porke meu visual mesmo ke não representa a sua maskulinidade periférika y preta meu visual representa eu. representa meu desejo sapatão ke tentaram kalar kom estupro. representa meu fascínio kom a estétika de homem ke desde pivete tentava imitar.
mais do ke uma imitação, meu visual é minha ação direta meu visual é kontra hegemôniko tanto do cistema patriarkal branko komo é kontra hegemôniko da maskulinidade preta y periférika kuando é tóxika. sou a margem da maskulinidade marginal. minha eskrita também faz parte dessas resistência por super vivência tem muitas palavra da oralidade periférika inserida aki e em outras letra isso não é a toa é uma disputa de narrativa. a ideia não é tirar ninguém mas é sim konstruir um lugar pra eu existir no meio também do não-lugar ke a kebrada me oferta.
mais do ke isso visual por celebração da minha estétika maskulina, mais do ke falar gíria errado komo forma de tentativa de komunikação, de sobreviência e konstrução de um lugar. a únika gíria di favela ke eu sei é a palavra sapatão y meu visual é meu jeito de kontar pras mulheres ke eu sou amante de mulheres.

por formiga

rolê kom p (título provisório)

punho protesto porventura preta próxima próspera palavreira papo poder plantas pensadora preferiada peixes preciosa pretendida prosa palavra preliminar prelúdio prefácio pekarar paraíba paloso pano pedido paladar presente partilha passiva princesa pelada partilha proativo passarinha pomo pandeiro paixão palavreado papariko poesia papiro potência plenitude panaceia palpite presságio paura pé pode pá pleonasmo perplexo preterimento perspectiva pretendia par peso posicionamento punk pessimista peba pala palavreia palavrão porra palavreador palavra perigosa praguejador paga pau pelica pena percebi perdi partiu partindo peito persisti platônico poeta possessivo panfletário posfácio palavroso pelaamô pensa prestanção patuá papaia pão padê patê pepino pino pinakoteka pedalar papagaio perikito perkussão paranaguá parafrasear panfletar praia paranauê paraná paraná

por formiga

(sem título)

paraíba maskulina
não feminina
mulher macho
não sou kapacho
maria joão
não é não
maria josé
bota fé
faça tudo ke kiser
só não maltrate
o koração dessa mulher
machorra
pike rotezora
ação direta até umas hora
stone butch
seu korte chave underkut
dyke pedalando a bike
enfrentando a hetero rua
no sol ou na luz da lua
virago
faz estrago
no patriarkado
vai vendo ó
mona okó
até no pajubá
noiz tem ke tá
invertida
aki num tem metida
a ideia é reverter
a lógika do poder
100 por cento fanchona
me tiram de machona
bofinho de kabelo raspadinho
sargento
não me kontento
sou antimilitarista
mas ta ai na lista
é tudo sapatão
jão
kamuflando pra se defender
ser invisível
pro sistema
o eskema
ser visível
pras gata
um salve rapa
a toda komunidade sapa

por formiga

sem título

muita braveza
leveza só nas piada
machão muita macheza
abandono
dono
da mulher e das kria
kachaça cerveja
veja
boteko
baralho jogo
karalho
maskulinidade
pra firmar
a heterossexualidade
pra rimar
kabaré
katingueiro
divida
dividindo uma família
mudando a trilha
memo assim
é sangue
do meu sangue
não é gangue
é konexao kom os mais antigo
rekuperar o saber perdido
a kabokla disse
e eu repito
e força vem de traz
então noiz trás
a memória de uns dia
eu sou um pedaço do meu pai
meu pai é um pedaço do pai dele
saber kem é meu velho
e o koroa do meu koroa
é saber ke eu sou
pro
meu lado ruim
pra não aflorar
pedir pro anjo de guarda guardar
os ponto positivo
manter vivo
passando pra frente
o lado bom dos antigo da gente
bom humor
boemia
inteligência no dia a dia
boas palavras
palavras molhadas
terra lavrada

dias dos pais por formiga

HETEROSSEXUALIDADE OBRIGATÓRIA

por Yuderkys Espiñosa Miñoso*

Buenos Aires, outubro de 2003

A análise da heterossexualidade como instituição é bastante recente dentro da teoria feminista tem desenvolvido um papel central a partir dos aportes realizados por feministas lésbicas dentro da academia e confronta-se distintos níveis de aceitação e rejeição.
Mas, sem dúvidas, esta noção este conceito foi amplamente conhecido por meio do texto Heterossexualidade obrigatória e existência lésbica da poeta e pensadora feminista Adrienne Rich (1980), embora tenha sido proposto originalmente pelo coletivo Purple September Staff através de seu artigo The normative status of heterosexuality (1975). Em sua análise, esta agrupação de feministas nos Estados Unidos, não somente apresentou o caráter da obrigatoriedade da heterossexualide, como veremos que já vinha sendo abordado por pensadoras como Carla Lonzi desde o início dos anos 1970 no contexto italiano, mas também introduzem um elemento novo em sua compreensão, isto é, a maneira como a heterossexualidade tem se constituído como uma das instituições chaves do patriarcado. De fato, o conceito usado pelo grupo, foi o de instituição da heterossexualidade obrigatória, que de acordo com Lauretis ( 2000 [1987]) permitirá chegar a uma análise mais adequada a respeito do lugar que a heterossexualidade ocupa em nossas sociedades, da maneira em que funda tanto o gênero, a sexualidade, os modos de relações entre os indivíduos e de pensamentos sobre os indivíduos. Como veremos, pensar a heterossexualidade como instituição social seria uma noção chave para a teoria feminista em sua análise sobre a construção do patriarcado.
A análise da obrigatoriedade da heterossexualidade em nossas sociedades havia sido desenvolvida desde o início dos anos 1970 no interior do movimento italiano pelo coletivo Rivolta Femminile, cujo o trabalho podemos acessar através de uma de suas integrantes, a reconhecida pensadora Carla Lonzi. Para o verão de 1971, esta escrevia em um de seus ensaios que posteriormente fora publicado em Escupamos sobre Hegel y otros escritos sobre liberación femenina2 o seguinte: “a complementariedade é um conceito que atinge o homem e a mulher no momento da reprodução, mas não no erótico sexual […] não é o modelo reprodutor aquele em que há cristalizado a relação heterossexual – incluindo quando no fim procriador é evitado cuidadosamente – segundo a preferência pelo pênis hegemônico?” e inclui: “Não nos pronunciamos sobre a heterossexualidade: não estamos tão cegas aponto de não poder ver que é um pilar do patriarcado, nem somos tão ideológicas a ponto de rechaçá-la a priori […] mas estamos convencidas enquanto a heterossexualidade for um dogma, a mulher seguirá sendo, de algum modo o complemento do homem. (LONZI, 1978, p. 72-73).
Nos seus trabalhos Lonzi invoca as múltiplas reivindicações do movimento de mulheres e feminista, como a luta pelo direito ao aborto. Ela advertia antecipadamente, a maneira em que todas as lutas seguem sem tocar no ponto central pelo qual a subordinação das mulheres é possível, e isto é, a naturalização das relações entre homens e mulheres, cuja a base ao fim somente se sustenta dada uma visão reprodutivista, a qual paradoxalmente se dizem combater. Esta ideia tem sido desenvolvida posteriormente por diversas autoras desde a década de 1980.
A escritora e feminista Adrianne Rich, que por meio dela esta análise tem sido mais difundida, apontava desde o início dos anos 1980, como pressuposto de um desejo inato das mulheres pelos homens não podia ser questionado, nem mesmo dentro do movimento feminista. Ela iniciava em seu famoso ensaio Heterossexualidade Obrigatória… nos lembrando a maneira em que “não é suficiente para o pensamento feminista o fato de que existiam textos especificamente lésbicos. Qualquer teoria, criação cultural ou política que trate a existência lésbica como um fenômeno marginal ou menos ‘”natural”, como uma mera “preferência sexual” ou como um reflexo das relações heterossexuais ou homossexuais masculinas, resulta profundamente debilitada justamente por essa razão, independente do restante de suas
contribuições. Se atrasa muito o aparecimento de uma crítica feminista da orientação heterossexual obrigatória para mulheres.(RICH, 2001 [1986], p. 45).
Rich observa a necessidade de formular a maneira em que a heterossexualidade tem sido construída historicamente como instituição e os fins para que tem servido, já que a mesma, em sua compreensão, é também uma instituição econômica que tem permitido e sustentado a dupla jornada de trabalho para mulheres, assim como a divisão sexual do trabalho como “a mais perfeita das relações econômicas” (Idem 79). Destaca que não compreender a heterossexualidade como instituição política implicar negar que o sistema de opressão, econômico, racista e de gênero, se mantém graças a uma multiplicidade de operações. Reconhece que o grande obstáculo e a dificuldade que comporta esta análise se deve ao fato de lançar a luz um tema tão difícil como o desejo sexual, o qual causa para mulheres heterossexuais um duro trabalho “intelectual e emocional”; “reconhecer que para as mulheres a heterossexualidade pode não ser uma ‘preferência’ completamente mas algo que tem que ser imposto, gestionado, organizado, propagado e mantido a força”, é um passo necessário para “a libertação do pensamento, [a] a exploração de novos caminhos, para vir debaixo de outro grande silêncio, [a] nova nitidez das relações pessoais. (Idem 66).
Está análise tem sido importante para compreender por que motivo falar sobre heterossexualidade obrigatória tem incitado intensos debates no interior do feminismo, como volta a rememorar a teórica feminista italiana Teresa de Lauretis. Ela em concordância com Rich, destaca como este conceito traz ao espaço da política o tema do desejo e seus limites, um âmbito que de modo insistente por sua relação com a subjetividade, por sua relação com o mais íntimo e vulnerável, há resistência em ser mencionada e subjetivada pela política, apesar de que desde de a teoria temos acordado e conceituado que o âmbito da sexualidade é absolutamente público e objeto de operações de poder específicas que a produzem normativamente (FAULCAULT, 1977). Poderíamos dizer sem temer nos equivocar, que esta resistência e os repares que se enfrenta o uso do termo como ferramente de explicação tem haver com o
mesmo que tange o íntimo, o coração mesmo da operação de poder por meio da qual se tem construído e mantido a estrutura de domínio patriarcal. Esta operação como aponta Mackinnon consiste em fazer da mulher, em lugar de sujeito, no qual, “o desejo sexual é construído socialmente como aquele pelo que [se]chega a desejar [o] próprio auto aniquilamento. “A feminilidade, tal como a conhecemos, representa a forma em que chegamos a desejar a dominação masculina” (1987, p. 54).
Seguindo esta análise, Teresa de Lauretis nos rememora o estudo de David Halperin (1986) segundo o qual, Ocidente, das mãos da Diotima de Platão, tem construído um modelo de sexualidade feminina ligada a reprodução e o desejo pelo homem. De Lauretis aponta que esta ética erótica é a que se tem sustentado e difundido através dos séculos por meio do discurso filosófico e com ele, nos adverte,tem permamecido excluídas outras formas de sexualidade não reprodutiva de mulheres assegurando o contrato heterossexual, ou uma heterossexualidade que definitivamente pareceria indissolúvel para as mulheres. “A construção e a apropriação para o uso do erotismo masculino garante a heterossexualidade ou a homossexualidade do pacto social, em virtude do qual todas as sexualidades, todos os corpos e todos ou ‘outros’ permanecem vinculados a uma ideal e ideológica hierarquia masculina que os define e determina seu significado e seu valor ‘social’ (DE LAURETIS, idem, 84). Para Lauretis isto significa compreender “que privilégio masculino não é algo que se possa renunciar de boa vontade ou abraçando uma ética mais humana, mas que é constitutivo do sujeito gerado por um contrato social heterossexual”(Idem, 126).
Esta ideia de “contrato heterossexual” foi proposta por Monique Wittig (1980) para apontar o acordo por meio do qual as distintas disciplinas epistemológicas a Modernidade se fundamenta em uma naturalização dos gêneros masculinos e femininos e atribuem a fato que a e a complementariadade entre eles é o fundamento de toda cultura. Trazendo a colocação esta formulação de Wittig, de Lauretis nos recorda a maneira em que escapa as relações concretas que vivem as mulheres, sejam estas heterossexuais ou lésbicas, e independente da qualidade das mesmas, a vivência da heterossexualidade normativa, enquanto todas estão sujeitas “na esfera pública dos efeitos objetivos e sistemáticos das instituições que as definem… como mulheres heterossexuais” com tudo o que ele comporta em termos de sujeita de uma subordinação particular (Idem 129). Assim como ela nos recorda “o pressuposto da heterossexualidade não é simplesmente um entre os diversos ‘mecanismos de dominação masculina’, como está intimamente envolvida em cada um deles: “se trata de uma estrutura sustentadora do pacto social e fundamento das normas culturais” (Idem, 129).
Finalmente não podemos concluir esta descrição do pacto da heterossexualidade obrigatória sem esboçar as reflexões realizadas pela teórica estadunidense Judith Butler. De acordo com a maior parte de análises anteriores, ela vai insistir na pergunta acerca das condições que tem determinado a produção de uma heterossexualidade normativa como necessidade de vigilância e produção do gênero: “até que ponto a hierarquia de gênero serve a uma heterossexualidade mais ou menos obrigatória, e com que frequência a vigilância das normas de gênero se faz precisamente com o propósito de apontar a hegemonia heterossexual” (2001 [1999, 1990,], 13).
Em seu muito lido Género en Disputa (2001 [1999, 1990,] ) ela aponta a maneira em que as normas de gênero referem em si mesmas a um “dimorfismo ideal” , a uma “complementaridade heterossexual dos corpos”, a uns ideais de feminilidade e masculinidade apropriados ou inapropriados de acordo com este ideal regulador centrado na matriz heterossexual que conceitualiza gênero e desejo. Se perguntará: “o que acontece com o sujeito e com as categorias de gênero quando o regime epistêmico de suposta heterossexualidade se desmascara como o que produz e desnaturaliza estas categorias supostamente ontológicas? (Idem, 28). Com isso, tentará dar conta da imposição de uma suposta unidade de experiência entre sexo, gênero e desejo dentro dos regimes de heterossexualidade obrigatória e a maneira em que ela se articula ao falocentrismo que impera. Se questiona, junto com Wittig, a maneira em que a construção do sexo como algo da ordem do natural serve a produção normativa dos corpos, dos gêneros e dos desejos.

Bibliografía

Butler, Judith (2001 [1990,1999]). El género en disputa : el feminismo y la subversión de la
identidad. México, D.F.: Paidós.
Colectivo Purple September Staff (1975). The normative status of heterosexuality. En Ch.
Bunch y N. Mirón (Eds.), Lesbianism and the women ́s movement. Baltimore: Diana
Press.
De Lauretis, , Teresa (2002 [1996]). Diferencias : etapas de un camino a través del
feminismos. Madrid: Horas y horas. (Cuadernos inacabados; 35).
Foucault, Michel (1977 [1980]). Historia de la sexualidad. (Vol.1). Madrid: Siglo XXI.
Lonzi, Carla (1978). La mujer clitórica y la mujer vaginal. En Lonzi, Carla (Ed.),
Escupamos sobre Hegel y otros escritos sobre liberación femenina. Buenos Aires:
La Pléyade.
MacKinnon, Catherine (1987). Feminism unmodified : discourses on life and law.
Cambridge: Harvard University Press.
Rich, Adrienne (2001 [1986]). Sangre, pan y poesía. Prosa escogida 1979-1985.
Barcelona: Icaria.
Wittig, Monique (verano 1980). The straight mind. Feminist issues, 1, pp.103-110.

SOBRE AUTORA: Yuderkys Espinosa Miñoso

*É pensadora, ativista, ensaísta, e docente comprometida com os movimentos antirracistas, o (hetero) patriarcado e a colonialidade. Nasceu e cresceu dentro de uma família afro-mestiça dos bairros populares de Santo Domingo. E tem vivido a treze anos como imigrante na Argentina e atualmente na Colômbia,
onde se mobiliza e percorre o territórioAbya Yala, comprometida com um projeto de formação política e desenvolvimento de um pensamento feminista crítico, antirracista e descolonial latino-americano. É candidata a doutora em filosofia pela Universidad de Buenos Aires. Entre seus trabalhos mais conhecidos se encontram os artigos Etnocentrismo y colonialidad en los feminismos latinoamericanos: Complicidades y consolidación de las hegemonías feministas en el espacio transnacional (2009); Los desafíos del feminismo latinoamericano en el contexto actual (2010); o livro Escritos de una lesbiana oscura (2007). Também tem sido coordenadora de várias publicações entre elas Aproximaciones críticas a las prácticas teórico-políticas del Feminismo Latinoamericano (2010). Junto a Karina Ochoa y Diana Gómez ha compilado el libro Tejiendo de “Otro Modo”: Feminismo, epistemología y apuestas descoloniales en Abya Yala (2014).

Retirado de http://glefas.org/biografia/yuderkys-espinosa-minoso/ acessado 22 out 2017 às 23h37m


Tradução livre por Formiga via Edições Formigueiro

Palavras chave: teoria lésbika e heterossexualidade kompulsória.

Resumo: O texto aborda uma historicização da noção de heterossexualidade obrigatória, nascida no seio
do movimento feminista e lésbico e sua utilização realizada por diversas teóricas a partir da década de
1970.

Lesbo-ódio: uma experiência política pessoal 1 (esboço não finalizado)

O texto visa realizar relatos pessoais sobre minha vivência lésbica, que aborda violência e compreender essas violências como uma experiência política, ou seja, uma vivência experienciada por diversos corpos lésbicos dentro do contexto de uma sociedade da supremacia masculina e da branquitude.
Gostaria de me apresentar sou uma lésbica masculina esteticamente, eu raspo os cabelos há vários anos, uso camisetas, bermudas e bonés, moro na periferia de São Paulo, tenho 28 anos contrariando as estatísticas 3, pele parda, estudante de história cotista racial e social e poeta de vulgo Formiga nas horas vagas.
O conceito de lesbo-ódio foi elaborado por Monalisa Gomyde 4 , que consta em seu vlog no YouTube. Gomyde vai discordar do conceito de lesbofobia que, segundo a etimologia da palavra significa medo de lésbicas e quando a sociedade expressa violência contra lésbicas, não é uma expressão de medo e sim de ódio. Gomyde propõe o uso do termo lesbo-ódio para substituir o termo lesbofobia e mais adequadamente nomear violências contra lésbicas na sociedade patriarcal.
Maira Gonçalves de Abreu 5, em sua tese de doutorado em sociologia defendida na Universidade Estadual de Campinas no ano de 2016, a respeito do movimento de libertação das mulheres na França na década de 1970, vai indicar que uma das ações desenvolvidas pelo movimento feminista tanto na França quanto nos EUA desenvolveu a técnica da auto consciência, que consistia em reuniões para falar sobre a vida de cada mulher presente, perceberem coisas em comum e a partir dai teorizaram sobre questões das mulheres. Um dos grandes motes do feminismo “o pessoal é politico”, criando nesse momento da segunda onda feminista, orienta o texto refletindo vivências pessoais e compreendendo elas como vivências politico pessoais.
Eu enquanto lésbica parda masculina passo por uma série de violências de lesbo-ódio que estão juntas e misturadas. O manifesto do coletivo do Rio Combahee 6 inicia seu texto afirmando que seu programa combate o capitalismo, o patriarcado, o racismo e a heterossexualidade nos trazendo a noção de imbricação das lutas, por tanto também imbricação das opressões.
Em agosto 2016 ao caminhar pelo centro da cidade de São Paulo, de bermuda larga, camiseta e boné da Um da sul 7, fui abordada por policiais. Um dos policiais com a arma apontada para minha cabeça ordenou que eu colocasse as mãos na cabeça e eu disse que ele tinha que chamar a polícia feminina porque eu sou “mulher”. O policial me humilhou de diversas formas e disse que já que já que eu quero ser homem ele iria me tratar como homem. O policial chegou ao ponto de me ameaçar dizendo que naquela hora ele estava fardado, mas a noite ele a paisana poderia sumir comigo que ninguém ia ver.
Luana Barbosa lésbica, preta, mãe e periférica morreu em decorrência de violência policial em abril de 2016. Fátima Lima 8 vai apontar que vivemos em um estado de necropolitica onde uns corpos são mais matáveis do que outros. No caso que está na mira no Brasil são os corpos pretos e pardos como o meu. Já sofri várias abordagens policiais ao longo dos meus 28 anos, todas violentas, mas após o assassinato de Luana estava muito escuro na minha cabeça que eu poderia ser a próxima 9.
Outra situação que aconteceu comigo em novembro de 2017, na sala de aula durante a minha apresentação de seminário sobre John Stuart Mill, nós do grupo apresentamos nossos nomes e durante o seminário a professora me chamou de Tiago, um nome masculino de um dos membros do grupos. Após o término do seminário, em um retorno das impressões da professora sobre nossa apresentação ela me chamou de Tiago novamente o que demonstra que ela achava que eu era um menino mesmo eu tendo me apresentado como Aline.
Em dezembro de 2018, em uma visita a minha família, minha tia avó, mulher branca ficou repetindo muitas vezes que eu ser assim homossexual é uma coisa natural e que é da minha natureza ser masculina.
Sheila Jeffreys 10, em seu livro La heresia lesbiana – la revolucion sexual de una perspectiva lesbiana feminista, vai mencionar o advento da sexologia ser datado do fim do século XIX. Jeffreys indica que o sexólogo Henry Havellock Ellis lançou a obra La inversion sexual, que pensa sobre lésbicas. Havellock Ellis vai compreender que existem dois tipos de lésbicas a lésbica congênita que seria a lésbica que nasceu lésbica e tem traços de masculidade e a lésbica que nasceu normal mas é corrompida pela lésbica congênita.
O pensamento de que lesbica é alguém que carrega uma essência masculina é algo que é construído histórica e cientificamente, que saiu da academia e adentrou ao senso comum com tal força que minha tia avó, o policial e a professora universitária, creem na mesma perspectiva da lésbica congênita. O grande problema dessa essencialização da lésbica como alguém masculino naturaliza o gênero e gera estereótipos que nos violentam levando inclusive ao lesbocídio 11.
Confundir lésbica masculina com homem é apenas um dos exemplos de lesbo-odio que as lésbicas masculinas passam. Denunciar a condição de vida das lésbicas dentro da sociedade patriarcal se apresenta como uma ferramenta para viabilizar nossas pautas e colaborar para reeducação social.

Notas

1 Não é possível trazer maiores detalhes bibliográficos porque tive que elaborar as pressas este texto por problemas pessoais e estou sem internet no local onde está sendo redigido.

2 Ativista lésbica parda autônoma periférica da cidade de São Paulo e poeta Formiga.

3 Alusão a frase do Mano Brow, dos Racionais Mcs na música Capitulo 4 versículo 3: “se eu fosse aquele cara que se humilha no sinal por menos de um real minha chance era pouca, mas seu eu fosse aquele moleque de toca que engatilha e enfia o cano dentro da sua boca. Mas não prossigo a mística vinte e sete ano contrariando as estatísticas.” Música situada no album Sobrevivendo no inferno de 1997.

4 Monalisa Gomyde é bacharel em Teoria Literaria pela Universidade Estadual de Campinas e ativista lésbica radical.

5 Como havia mencionado não tenho acesso a internet por isso não é possível trazer maiores dados sobre o texto e a teórica. Mas sei que a tese em questão foi defendida em 2016, na UNICAMP e versa sobre os conceitos de antiraturalismo e materialismo desenvolvidos no movimento de libertação das mulheres na França durante a década de 1970 e para tal a autora historiciza o mouvement de libertacion des femmes.

6 Coletivo do Rio Combahee é um coletivo de feminismo negro estadunidense que se organizou durante a década de 1970. Era compostos de algumas importantes ativistas lesbicas negras como por exemplo Audre Lorde e Barbara Smith. Em 1977 lançou seu célebre manifesto, que pode ser encontrado na coletânea de lésbicas de cor Esta puente es mi espalda, organizada por Gloria Anzaldua e Cherri Moraga nos anos 1980.

7 Um da sul é uma marca de roupas e loja de livros idealizada pelo escritor periférico Ferrez localizada na região do Capão Redondo, periferia da zona sul de São Paulo.

8 Fátima Lima lésbica preta acadêmica do campo da Antropologia. O texto referido é de 2018 e foi lançado na Revista Gênero da UFBA.

9 Eu poderia ser a próxima é uma alusão ao filme produzido e lançado pelo coletivo Luana Barbosa em 2017 chamado Eu sou a próxima, que aborda assassinatos de lésbicas negras no ano de 2016.

10 Sheila Jeffreys é socióloga inglesa que estuda a teoria gay e teoria lésbica.

11 Lesbocídio é a noção de que lésbicas são assassinadas porque são lésbicas. O dossiê lesbocídio é uma pesquisa desenvolvida por Milena Carneiro Peres, Suane Fellipe Soares sob a orientação Maria Clara Dias, onde elas analisam assassinato e suicídio de lésbicas, compreendendo como uma violência específica contra lésbicas em nossa sociedade patriarcal.

texto escrito para o curso de pensamento lésbico por Formiga

todo sapatão preto é exu

todo sapatão preto é exu

meu okani é um dildo

todo sapatão preto é exu

kuando minha mina goza eu ke vibro

todo sapatão preto é exu

meu kor-po inteiro é meu okani

todo sapatão preto é exu

passarin feito origami

todo sapatão preto é exu

muita gente tem medo de mim

todo sapatão preto é exu

algumas preta é afim

todo sapatão preto é exu

fugindo dos botas

todo sapatão preto é exu

korrendo atras das notas

todo sapatão preto é exu

nem ruim nem bom

todo sapatão preto é exu

meio amargo mas é bom bom

todo sapatão preto é exu

vida circular

todo sapatão preto é exu

komo diria ifá

todo sapatão preto exu

não sou demônio

todo sapatão preto é exu

mecho kom seu feromônio

todo sapatão preto é exu

negociando no markado

todo sapatão preto é exu

rimando mando meu rekado

todo sapatão preto é exu

vendo pó

todo sapatão preto é exu

vendo pó…esia e não é só

todo sapatão preto é exu

merkado negro

todo sapatão preto é exu

dinheiro negro

todo sapatõa preto é exu

minha vida é tesouro

todo sapatão preto é exu

valho mais ke ouro

todo sapatão preto é exu

noiz não gosta de polícia

todo sapatão preto é exu

na humildade sem maldade sem malícia

todo sapatão preto é exu

eu gosto de komê

todo sapatão preto exu

farofa de dendê

todo sapatão preto é exu

sou fã do seu lindo bumbum

todo sapatão preto é exu

eu kero minha oxum

todo sapatão preto é exu

to de brinkadeira

todo sapatão preto é exu

mas é lição verdadeira

todo sapatão preto é exu

POR FORMIGA

Mestiço Drama

Pardo é branko sujo
Mestiçagem cujo
Gera várias gerações de
Enkardidas
Sem adidas
No pé
E agora José?
Pardo e tardo em rekonhecer
Ke meu lokal de fala é leopardo
Meu lokal de kala é pantera negra
Seguindo as regras
Não ao leu
Pardo é papel
Papel social de pensar a intersecção
Racial
Komo pode a minha pessoa
H. Aço não S. Barro jao
sofrer estilhaço de racismo
E na kabeca ressoa brankitude
Konsciência a milhão e zero atitude?
Na beira do mar
Buskar mulheres brankas pra amar
Preterindo sapatonas pretas
Preferindo o desejo pelo
Beijo embrankecido
Da história eskecido
Fika eskisito
E kuando o amor
Por uma afrikana em diáspora brotou
Também rolou tio
O ciúme doentio
Educação sentimental
Passado presente kolonial
Desvalorizar a necessecidade de leveza
afetividade
Da minha mana preta
É desumanizar
Sua korpa tbm afrikana
Gritaram me negra
Eu respondi
Eu akudi
Me responsabilizei
Me posicionei
Mas os retintos da opressão
Disseram se liga jao
Meu kilombo é de bantu
Tem bombo tem santo mas num é pra branko
Afro konveniente
Konivente
Me tranko no kuarto
E kuando saio mais um enkuadro
E novos dias de desemprego
Desapegada as gatas vaza
Eu vira lata
Branquice é sua babakice
De me esteriotipar
Achar ke eu vou chavekar
Kualker rabo de saia
Ke raiva
Kuase sai um rabo de arraia
Pensam ke eu sou trombadinha
Só por kausa da minha karekinha
E da minha bombeta
Kebrou minha makininha
Me tiraram de leão noia e eu sou kareta
Streithg edge
Nem afro bege
No máximo não branko
Sempre trava a porta do banko
Aí meus kachos krescem pra cima
E vc chamando de kabelo ruim
Komo assim
E Ruim é esse pre konceito
Introjetado no peito
Ke é us mesmo 500
De 1500
Passa é um lamento
Em forma de poema
Da Tatiana Nascimento
Um poema
Kom eu liriko raivoso
É sobre komo
Nossa mistura
Poko eskura
Não é aceita pra konstruir kilombagem
Menos melanina mais mestiçagem sem koletividade
Perto das retinta
É poka tinta
Mas Firmao
Então
É pokas
Pokas ideia
Pra kem vem tirar
Minha odisseia
De 28 ano
Kontrariado as estatistika
E superando
A supremacia kolonialista
Na kontradição
Na kontra mao
Pele parda num ouço funk
mas kurto punk
Vim da lama
Valeu pai mestico drama
Já versou alafia meu
Meu pai Meu pai sou eu

POR FORMIGA