Monthly Archives: June 2015

Samba di Mulher

Na roda samba uma mulher negra. Ah komo tem malemolência! Seus vestido é pra demonstrar respeito a ancestralidade. Kantando, dançando, batendo palmas, a mulher negra está de vestido branko. É uma mulher negra komo todas, mas seu olhar tem um brilho inkomum, no peito koleciona amores e na kabeça guarda segredos. Se konecta as antepassados nos passos da dança em sintonia kom u tambor. A eskravidão fikou no passado, agora vemos racismo institucional, violência doméstika e subemprego. Porém faz do seu tempo de deskanço um tempo pra kuidar das raízes. U kantador reverencia tua beleza… eu tenho vontade de sambar kom ela, só ke no samba chula mulher kom mulher não pode kebra a tradição, então eu tenho ke fikar na minha. Ela tá de branko porke hoje é sexta-feira dia de Oxalá. E eu tô de preto porke preta é minha bandeira. E ela roda a roda seu olhar por um segundo acendeu meu korpo todo. E ai eu pego u pandeiro me ligo no seu remelexo e e ela se kurva pra u atabake. Ela no centro é uma deusa, uma rainha, dama ke karrega patuá a mandinga num vai te pegar. Faceira me lança um olhar ke enfeitiça, respondo u koro: “flor di laranja pro meu benzinho cheirar”, me fascina me hipnotiza de baixo da tua saia tem um imã

por FORMIGA

 

Machistas Autoritários

Machista autoritários não te daremos paz
as mulheres pobres não aceitam mais
todas sabem pois elas sentem
a violência kontra mulheres karente ke se tem
E eles vem
kom toda autoridade do machismo subalterno
e de repene a nossa kasa e rua rua se tranformam num governo paterno
protestar por respeito é fora da norma
noiz somos as manas ele os patriarkas do sistema
Já ke é assim lutaremos por liberdade e mais

Machistas autoritários sei ke sou kapaz
Machistas autoritários sei ke sou kapaz
Machistas autoritários sei ke sou kapaz
Machistas autoritários sei ke sou kapaz

Patriarkado
em nome do estado seus privilégios são dados
A percepção ke agente tem é reduzida mas eu sei
ke u rei
é sexista kom as oprimidas
tornam vítimas mulheres ke propriedades não tem
E já é tão naturalizado ke é prátiko dizer
ki eles são kem manda e kem obedece é você
Da misoginia kapitalista é a kulpa
kom agente o governo não se preokupa
Por todos us relatos não tem mais deskulpa
As violências são brutais
os homens dominam kada vez mais
São fatos na tv e fotos nos jornais
Pois mulher pobre, afrodescendente
de muitas maldade foi sobrevivente
a história está na pele presente
invizibilizada por discriminações
raciais, sociais e sexuais
Então eu repito mais e mais
esteja na autodefesa konstante
ou machukaram o teu korpo
seguiram adiante e num kanto eskuro kualker serão lágrimas a mais

Machistas autoritários eu não konfio mais
Machistas autoritários eu não konfio mais
Machistas autoritários eu não konfio mais
Machistas autoritários eu não konfio mais

A alieação histórika se repete
em nome de um sistema fáliko
kom grilhões na mente
somos manipuladas
e há muitos sékulos tem sido assim
nos impõe a submissão
ai di mim obviamente estão komandado
kom kasamento e ciúmes nos kondicinando
Os patriarkas racistas, eu asseguro, estão arkitetando
o kotidiando genocídio femicída
Mana
o patriarkado é sexista cruel
pelos menos algumas noivas estão rasgando seus véus
E os sociólogos imparciais
preferem ser liberais
dizem ke é a falta de dinheiro nosso dilemas
mas se observarmos bem mais você deskobre
ke mulher e homem pobre se parecem
mas eles não tratam elas komo iguais
Meninas vão crescendo
kom imposições de feminilidade karcerária
se subdesenvolvendo sem a autonomia necessária
são filhas de mães sofridas
por essa mesma razão
reproduzem o padrão patriarkal a riska
Então
isso é um abuso
são mulheres assim ke se ferram muito
E no dia a dia vivem akorrentada em mental klausura
e sofrem agressões humilhações pauras

Porém versarei pra defender vocês
Irmãs
nossas razões pra protestar ainda são as mesmas
a misoginia nos atrapalha di mais
somos sobreviventes também temos nossos ideais

Machistas autoritários eu não konfio mais
Machistas autoritários eu não konfio mais
Machistas autoritários eu não konfio mais
Machistas autoritários eu não konfio mais

Os patriarkas são kovardes koloniais
espankam negras em suas kasas por motivos ditatoriais
E nossas ancestrais
Por liberdade guerrearam
morreram se suicidaram
E hoje noiz kremos
ke seu konforto é minha voz silenciada
percebemos ke somos noiz as prejudikadas
presta atenção na nossa própria situação
pois eles veikulam na televisão ódio a nossa biológika
kondição
Mana a minha é a mesma ke a sua
glândulas, mamárias ovários e menstruação
será ke eles projetam em nós uma um sako de pankada padrão?
Alguns anos agora se kompletam
da lei Maria da Penha na konstituição
bem artikulada na teoria
mas não protegem mulheres no dia a dia
Então foda-se o estado kom sua falokracia
no Brasil papel de gênero é efikaz
te dão um beijo no rosto e te estupram por traz

Nossas razões pra se revoltar ainda são as mesmas
as violências machistas são banais
Mas sou lésbika feminista tenho meus ideias
Machistas autoritários sei ke sou kapaz
Machistas autoritários sei ke sou kapaz
Machistas autoritários sei ke sou kapaz
Machistas autoritários sei ke sou kapaz

 por FORMIGA

 

(sem título)

kuando eu tô assim afim de uma mina é ke eu percebo a parte boa de ser lésbika
é o tesão a afetividade o karinho a reciprocidade a konvivência
no kotidiano é só kombate a lesbofobia misoginia elitismo racismo e racismo internalizado
o ke vc sente é uma força revolucionária
de voltar seu desejo pra mulheres porke
o patriarkado nunka ia kerer isso ai
eles programaram agente pra se odiar
komo mulher komo pobre komo pessoa miscigenada
então o ke vc sente é a “matriarka negra”
ki tá dentro de vc
ke fala pra vc resistir guerreira
us sentimento bom ki faz agente kerer ta viva
pra mim isso é Áfrika
isso são as Yas
isso é Ikamiaba
isso é Amazona
kero mais é ki vc sinta isso mesmo
amor é koisa de irmã
tomara ke a mamãe Oxum te traga uma preta de responsa
pra tomar konta do seu koração
o outra pra me fazer karinho de noite
e as duas tá linha di frente
kum noiz
beija até mais
por FORMIGA

Karta pra lésbika de kor

Salve mana!

Tua escrita é um registro de saberes antigo do nosso povo, ke delatam sékulos e sékulos de invasão, kolonização, genocídio, sekuestro, eskravidão, miscigenação  (falo de miscigenação komo violência racial por estrupro kontra mulheres indígenas e afrikanas ter tido o aval da Igreja Katólika no komeço da kolonização na Amérika portuguesa e o plano de brankeamento da população negra arkitetato por racistas brasileiros no sékulo XIX ke trouxe migração europeia pra o país), falsa abolição… Saberes de resistência ancestral nos ajuda a kontinuar akreditando ke o amanhã será melhor porke ontem muita gente morreu pra ke agente sobrevivesse. Nossas mães, nossas avós, bisavós e tataravós ke traziam nas peles pretas e vermelhas os dokumentos de nossa história de luta não podemos deixar isso passar em branko! Sapatão precisa dessa referência ke usa o negro da tinta pra manchar o papel branko kom letras ancestrais. Porke na moral pra saber kem agente é é preciso olhar pro passado. Komo ke agente pode gostar de uma mulher se agente não souber ke lésbika existe? Toda vez ke você sai na rua mostrando a kara ajuda uma lésbika a resistir, tipo igual e eskrita lésbika de kor. Se a família, a alma, a terra, nossa kultura milenar foi negada a noiz, a eskrita então piorou tá na mão dos patriarkas brankos e heteros. Nossas letras ancestrais são orais e agora agente vai tomar de assalto o papel e a kaneta pra história ser kontada pela nossa visão. Pra gente garantir ke as nossas no futuro konhecimento di kem agente é e não no ke o kolonizador ker ke agente seja, entende. Lésbika e ancestralidade: lembro do itãn de Oxum e Iansãn. Tem também as ikamiabas guerreiras indígenas ke viviam numa tribo só de mulheres. Solidão da lésbika negra é embaçado. Tá relacionado kom racismo profundamente. Ao passo ke sobre a lésbika negra rola o fetiche kausado pela hiperssexualização da mulher negra, akontece também o abandono por uma lésbika branka ke não ker apresentar uma lésbika negra pra sua família. Essa solidão tem um impacto profundo nas nossas subjetividades e nas prátikas afetivas, talvez dai vem um jeito de amar esfomeado, desesperado, karente já ke esse amor é tão raro ou até mesmo a depressão e o isolamento. Mas por outro lado o amor romântiko é uma konstrução social utilizada pra o kontrole feminino. A maioria das nossa estão sobrevivendo em favelas e periferias trampando em subempregos tipo telemarketing. São poukas ke tem um estudo em uma universidade. Tem mana ke pela fome ou pela ilusão de ostentação ke o konsumo dá mete us kano na kara dos playboy, tem umas ke trafika e outras ke rodou e tão tirando uns dia. A inklusão na sociedade através do ter nunka vai sei efetiva. É logiko ke agente precisa de um konforto material, mas o kapitalismo é hierárkiko tá ligada. Pra existir privilégio tem ke existir kem não tem privilégio: o povão. O padrão e o patrão é branko, se você ligar a tv vai ver ke o poder kultural, polítiko, intelectual, financeiro, científiko é da elite branka. Então a pobreza e a miséria tem kor e parece kom agente. A únika solução ke eu vejo é a revolução! Uma transformação ke depende de kada uma. É  a revolução do kotidiano ke eu tô falando, reedukação, kritika e rompimento kom padrões de kontrole desta sociedade onde o homem branko riko e hetero é o o modelo. O ke mais parece kom esse padrão tem mais acesso ao sistema. Totalmente ao kontrário da gente. Vamo lá mana agente não tem nada a perder só a ganhar, ganhar a liberdade! Se você ker uma revolução komece em você mesma. Uma vez uma parceira me falou ke os revolucionários se importava kom o ser. Pra mim ser é ouvir os próprio desejos e kompartilhar o ke tem de bom. É fazer o ke tem vontade. Tipo sapatão sabe?! Sentir vontade de ganhar um karinho dakela mana e chegar nela mesmo tendo medo de tomar uma bota. Ação direta meu é entender a realidade e fazer alguma koisa pra mudar. Ser ao kontrário do ke o padrão manda é bater di frente kom o sistema é se rebelar, por isso ke sapatão é uma potência revolucionária. Já reparou ke o certo nessa sociedade e mulher kom homem? Agente por instinto, escolha ou decepção ker fikar só kom mulher. Muitas já nem se chamam mais de mulher se denominam sapatão, lésbika, entendida, fancha, kaminhoreira, lesbiana, butch. A minha função na derrubada do patriarkado é a lesbianidade. Lesbianidade pra mim é ganhar um karinho di noite de uma kompaheira, ter alguém pra dividir a vida. Lesbianidade também é auto kuidado, autokonhecimento, amor próprio. É kuidar das raízes, é respeitar ke kuando o berimbau toka tá mantendo viva a história de nosso povo: lembrando as dores, nos mostrando os perigos do kaminho, nos ensinando a respeitar as mais velhas e as mais novas e a celebrar a vida, celebrar a vida lésbika é lesbianidade. Falo da kapoeira porke kapoeira é igual a vida ke é loka: uma hora agente se eskiva de um pé nervoso, outra agente ataka, outra agente binka, outra agente luta, outra agente engana, outra agente tenta não deixar se enganar pedindo sempre a proteção da deusa a labrys é meu patuá. Porke lésbika de kor lésbika negra agente vive no korpo. E é tembém ser fechada kom as irmã,  bolar e exekutar os planos antipatriarkado, é ser guerreira e defender a koletividade. Mana lembra sempre de onde você vem pra tá ciente do seu valor de kem você é. E ai então vamo fazer valer a pena pra não mais sobreviver mas pra super viver. Espero ke essas palavra te fortaleça mais ainda.

Valeu

por FORMIGA